Estudando um pouco sobre a
origem de nossa cidade, vi um texto que me chamou a atenção. Como sabemos a
nossa origem tem uma estreita relação com os índios. Foram eles que foram
usados pelos colonizadores com a determinação de fazer um caminho de ligação entre
o Sul e o Mato Grosso. Para tanto eles iam povoando com suas tribos, os trechos
que percorriam. A nossa região teve então nos índios Caiuá, seus primeiros
habitantes. Isto ocorreu por volta de 1850.
Pois bem, esta presença dos
índios sempre foi marcante. Observemos alguns aspectos de importância para
nosso entendimento:
Os índios brasileiros são
considerados de origem asiática e chegaram aqui a 62000 anos atrás, tendo
atravessado a pé o estreito de Bering. Em São Raimundo Nonato, Piauí, existem
vestígios da presença humana datados de 48000 anos atrás. Estes dados foram
obtidos por pesquisas arqueológicas. Os grupos indígenas, tem costumes, crenças
religiosas e organização social diferentes, mas algumas características são
comuns a todos. Adotam o regime de subsistência baseado na exploração dos
recursos naturais e consideram que a harmonia do universo depende da troca
equilibrada entre homens, seres da natureza e seres naturais, o que explica a
preocupação em não alterar o meio ambiente. Não há noção de propriedade privada
da terra mas sim da roça privada, ou seja, quem cultiva a terra é dono da
produção, não da terra.
Os índios acham que o mundo é
finito e que o círculo é a figura perfeita. Suas aldeias são sempre circulares,
refletindo essa visão do universo. Para eles, a simetria é um sinônimo de
beleza. Suas pinturas corporais, cerâmicos e cestarias raramente apresentam
desenhos assimétricos. Os índios não desenvolvem a não de individuo e
consideram que a unidade é o dois. O número um é sempre parte de alguma coisa,
idéias também presente no conceito de yin e yang elaborado a milhares de anos
pelos chineses.
Durante a sua ocupação da terra o índio explorou e viveu através dela sem produzir um deserto sequer.
No ano de 1854 o presidente
Norte Americano fez uma proposta aos índios Seatle para lhes comprar as terras
e seriam recolocados em outra reserva. Vou transcrever um trecho da carta
resposta do chefe Seatle ao Presidente Franklin Pearce:
Como é que se pode comprar ou
vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha.
Se não é nosso o frescor do
ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é
sagrado para o meu povo. Cada ramo de um pinheiro, cada punhado de areia das
praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são
sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das
árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco
esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos
jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos
parte da terra e ela é parte de nas. As flores perfumadas são nossas irmãs, o
cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os
sulcos úmidos das campinas, o calor do corpo do potro e o homem, todos perecem
a mesma família.
Portanto, quando o grande
chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, pede muito de
nós.
A terra é sagrada para nós. A
água brilhante que escorre dos riachos, não é apenas água, mas o sangue de
nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem se lembrar de que
ela é sagrada e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada
reflexo nas águas límpidas dos lagos, fala da vida e dos acontecimentos do meu
povo.
O murmúrio das águas é a voz
dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam a nossa sede, carregam
as nossas canoas e alimentam as nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra,
vocês, vocês devem se lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos
irmãos e seus também, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dariam a
qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco
não compreende os nossos costumes. Uma porção de terra para ele tem o mesmo
significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai
da terra aquilo que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga,, e
quando ele a conquista prossegue o seu caminho. Deixa para traz o túmulo de
seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus
filhos e não se importa. A sepultura de seus pais e os direitos de seus filhos,
são esquecidos. Trata a sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que
podem ser compradas, saqueadas, vendidos como carneiros ou enfeites
coloridos. Seu apetite devorará a terra,
deixando somente um deserto
Nossos costumes são
diferentes dos seus. A visão das suas
cidades fere os nossos olhos, talvez porque sejamos selvagens e não
compreendamos.
Não há um lugar muito quieto
nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de
folhas na primavera ou o bater de asa de um inseto. Mas porque eu seja um
selvagem e não compreenda.
O ruído parece somente
insultar o ouvido. O que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro
solitário de uma ave, ou o debate dos sapos em uma lagoa a noite?
O índio prefere o suave
murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma
chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros. O ar é precioso para nós, pois todas
as coisas compartilham o mesmo sopro – o animal, a árvore, o homem.
Parece que o homem branco não
sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível
ao cheiro.
Se decidirmos vender as nossa
terras imporei uma condição: O homem branco deve tratar os animais desta terra
como seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de
agir. Vi milhares de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem
branco que os alvejou de um trem ao
passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser
mais importante que o búfalo, que sacrificamos apenas para permanecer vivos.
O que é o homem sem os
animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão
de espírito. Pois o que ocorre com os animais breve acontece com o homem. Há
uma ligação em tudo. Tudo o que acontecera à terra acontecerá aos filhos da
terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. A terra não
pertence ao homem, o homem pertence à terra. O homem não tramou o tecido da
vida, ele é simplesmente um dos seus fios. Tudo que fizer ao tecido o fará a si
mesmo.
É possível que sejamos irmãos
apesar de tudo. O homem branco poderá vir a descobrir um dia que o nosso Deus é
o mesmo Deus. Vocês podem pensar que o possuem, como desejam possuir a terra,
mas não é possível. Ele é o Deus do homem e a sua compaixão é igual para o
homem vermelho e o homem branco.
Os brancos também passarão,
talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas e uma noite
serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando da sua desaparição
vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a
esta terra e por alguma razão especial, lhes deu o domínio sobre ela e sobre o
homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que
todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam domados, os
recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens e a
visão dos morros obstruídas por fios que falam.
Onde esta o arvoredo?
Desapareceu. Onde esta a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da
sobrevivência.