quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

EFEITO ESTUFA?





        Valemos-nos desta foto hilária, porém seria, para retransmitir um texto. Esta pesquisa foi apresentada na ECO21 do Rio de Janeiro. Ela nos remete a pensar sobre o comprometimento da camada de ozônio e o efeito estufa.

        Metano emitido pelo gado: um paradoxo da natureza

Williams Ferreira
Meteorologista, Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.

        Os Relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam, sem maiores dúvidas, a participação humana no aquecimento global, sendo os maiores responsáveis os países mais ricos que utilizaram os combustíveis fósseis para promover seu desenvolvimento, sem se preocupar com os custos ambientais de todo o processo, decorrente de um modelo econômico devastador da natureza. Hoje, o carbono, elemento químico fundamental para a vida na Terra, presente em minerais e nos compostos que fazem parte de todos os seres vivos, desde os mais simples, como os vírus, até os mais complexos, como o homem, embora seja fonte de vida, é considerado o maior vilão do aquecimento global.
        Porém, há outros gases participantes do Efeito Estufa com poder de aquecimento muitas vezes superior ao do dióxido de carbono, como é o caso do metano, o qual chega a ser 23 vezes potente que o dióxido de carbono. Fruto direto e indireto de atividades humanas, o metano é produzido principalmente pelos bovinos criados para fornecer leite e carne para o consumo humano.
        Os bovinos, classificados como herbívoros ruminantes, são considerados os maiores emissores de metano no planeta, já que a população de ruminantes, na Terra, é de aproximadamente 1,2 bilhão, com emissão estimada de aproximadamente 80 milhões de toneladas de metano por ano.
        A produção de metano por esses animais ocorre, principalmente, devido à fermentação entérica do alimento ingerido, por meio de um processo anaeróbio efetuado pela população bacteriana existente no rúmen, que é o primeiro estômago do animal. Nesse processo, parte do carbono existente no alimento é também transformado em CO2. A emissão desses gases pelos animais ocorre, então, principalmente pelas narinas e pela boca. O metano também é produzido pela fermentação microbiana no processo digestivo de outros animais, inclusive o homem, porém, nesse caso o processo é devido à decomposição normal de certos alimentos indigestos, por ação de bactérias inofensivas, naturalmente presente no intestino grosso (cólon), sendo essas fontes consideradas insignificantes.
        Os Estados Unidos, atualmente, têm um rebanho de aproximadamente 100 milhões de cabeças de gado de corte e nove milhões de cabeças de gado de leite, que são responsáveis por grande parte das emissões de metano daquele país.
O problema, porém, não atinge somente os grandes países; afinal, a Nova Zelândia, com população de pouco mais de quatro milhões de pessoas, destaca-se por ter a indústria animal representando grande parte do setor agrícola daquele país, com um plantel de 41 milhões de ovelhas e 10 milhões de vacas, fora outros ruminantes.
Como, em média, um bovino emite de 80 a 110 quilogramas de metano por ano, diante da sua grande população bovina, a Nova Zelândia, por ser um dos países signatários do Protocolo de Kyoto, buscou, no ano de 2003, invertermos o seu quadro de emissões de metano para cumprir as metas do Protocolo. Foi então, criado o inédito “Imposto Flatulência” na indústria bovina, o qual foi imediatamente questionado por diferentes setores agrícolas, os quais alegavam que a emissão se dava, na maior parte, pelas vias aéreas do animal.
        Tais atitudes demonstram que esse país está, sem dúvida, ciente do perigo da grande emissão do dióxido de carbono para a atmosfera, pois as pesquisas atuais, embora questionáveis, buscam modificar o volume de metano emitido pelos animais, seja por mudanças de ordem genética no sistema digestivo ou pela mudança no volume de alimentos fornecidos, tipo de carboidratos e, ou, adição de lipídios fornecidos na dieta animal, até alterações na microflora do rúmen, desde que, ao final, os produtores de leite e carne não venham ter seus produtos afetados.
Outro exemplo vem da Universidade de Hohenheim em Stuttgart, Alemanha, onde alguns cientistas anunciaram o desenvolvimento de uma pílula capaz de reduzir emissões de metano produzidas pelo gado. A pílula à base de plantas deveria ser acompanhada de uma dieta especial, com algumas restrições alimentares, capaz de reduzir a emissão de metano e aumentar a conversão dos alimentos em glicose.
        A tentativa que a Nova Zelândia vem fazendo para lidar com esse grande problema é um exemplo que outros países, como o Brasil, deveriam seguir; no ano passado, o rebanho bovino brasileiro foi estimado em aproximadamente 204 milhões de cabeças, posicionando o Brasil como um dos maiores emissores de metano derivado dessa atividade. Outra fonte de emissão de metano ocorre posteriormente no momento da decomposição do estrume desses animais, sendo o gado o maior responsável pela emissão de metano, seguido posteriormente pelos suínos.
Estudos revelam que o volume emitido em determinada região depende de vários fatores, entre os quais se destacam o número e a raça dos animais presentes, o volume de dejetos produzido por cada animal, a umidade e as fibras presentes nos dejetos animais, o sistema de tratamento de dejetos utilizado e o clima da região. Os diferentes sistemas de tratamento de dejetos contribuem para a redução de metano na atmosfera, pois, na sua ausência o estrume é depositado diretamente no solo e em contato com o oxigênio irá se decompor aerobicamente, aumentando a emissão não só de metano, mas de demais gases para a atmosfera.
Aceitando esse desafio, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) já vem realizando algumas pesquisas nesse sentido. Nesse caso, a natureza cria um paradoxo, pois a própria natureza animal parece ir de encontro à saúde da natureza do Planeta. Crescer sim, essa deve sempre ser a meta, mas com compromisso, em um modelo econômico sustentável, que não é só um sonho e pode seguramente ser alcançado, com a participação de todos os atores envolvidos na sociedade e não só dos órgãos governamentais. O que não se pode deixar de considerar é que esse caminho é longo e árduo.

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